12 April 2009

DOR


A procissão passou ao meio dia
feito uma serpente insidiosa à minha porta.
As pretas velhas cantavam um tom acima
e o padre se aborrecia.
Já era tarde da noite
e eu fiquei lembrando da cantoria das pretas velhas
do olhar pintado de Jesus,
solavancando sob os braços dos fiéis
e da aberração do povo em contrição.

Já tive fé, mas está escondida
Já tive esperança, trancaram-na
Já tive certezas, sumiram.

A procissão repassa o que eu passei;
as penúrias das estações dolorosas
e em nenhuma delas desisti de mim e suportei.
Agora quem tem o olho pintado
e vive aos solavancos
sou eu, que chora e chora
Mas quem há de explicar a dor?
Quem é santo sentiu dor,
quem é pecador sentiu dor,

A dor deve ser uma coisa muito boa,
se procissão para ela há,
então, dignamente, sintamos dor.

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