19 August 2006

DESCASO


Queria escrever-te um verso e não me posso
Doem-me as dores de tudo
Dói-me a alma.
Não posso nem mesmo aliviar-me a carga
Pois se já nem tenho as ilusões do mundo

Queria dar-te flores, oferecer-te um cravo
Um ramo, um crisântemo
Um pequeno vaso.
Eis que não posso. Não posso dar-te nada
Nem a mim eu dei,
Nem a mim eu trato

Supunha que um dia então
Repentino e facilmente
O mundo abriria fontes
De riso, de cor, de luz...
Mundo sem dó, qual meu engano
Bem longe foram ficando os guizos,
Os sorrisos
Qual morte fria
Meu sonho me traiu

Não me peças nada, não me olhes
Faça de conta que sou aquele pedinte sórdido
- aquele que viste à porta da tua casa –
e desviaste o rosto
e colocaste a máscara.
Pediste-lhe sorrisos, alegrias, calma?
Nada se pede àquele que quer tanto...

Queria dar-te um sorriso
Mas nem isso eu pude
Depois desta poesia
Nem meu braço
Abraço,
Um dedo de minha mão

Deixo-te apenas pesar,
Ressentimentos, dores
Nem tão sentidas
Nem tão sofridas
Acho que está bom.

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