04 August 2006
DOR E ROSAS
As dúzias de rosas
Que enfeitam o vaso
São as mágoas perfeitas,
Todas desbotadas
Do meu coração de barro
Quando menina, não fui feliz;
E infeliz também em tempos de alegria
Mas a vida passou
Como o trem passa,
Apito assobiando em curva perigosa
Em meio aos trilhos tortuosos dos meus anos
Trazendo hoje um feixe de pecados
Embutido em rosas de cores descoradas,
Como as que eu vejo enfeitando o vaso.
Trem que carrega flor
Carrega também as mágoas
De puro anseio e lamento
Não trouxe somente isso,
Mas um espírito hirto
E um olhar serenado
Por ter conhecido a dor,
Por ter gostado da dor,
Alimentado essa dor,
E nunca ter tido rosas.
Se olho esse vaso agora,
E se vejo flores, viçosas
No canto da sala, estiradas,
Sei que serão amanhã
Um dia depois de amanhã
Não muito longe, na sexta,
Retrato de mim no passado
Promessa feliz de ventura
E hoje, figura triste,
Um fardo.
Indubitavelmente serei
O inverso da vida da flor;
Nasci indolente e madura,
Morrerei promessa e semente,
Num chão por onde o trem passa
E a vida assobiando, passa,
Trazendo a flor,
A promessa da flor,
A dor em vasos...
- Não cumpre o que promete, vida malvada –.
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