04 August 2006

PINGO D´ÁGUA

Tenho uma breve lembrança de ti
Que o tempo ainda não quis levar
Porque, obstinada, eu a seguro em mim,
Dizendo, esta não,
Esta fica aqui...

Minha memória é como aquela vitrola velha
Que havia na casa de meu pai,
Tocando sempre a mesma coisa,
Enjoando o ar, o ambiente,
Do mesmo beat de ritmo,
Batido e repetido,
Monótono, como um carrilhão de horas.

Porque a qualquer hora, quando quero
Busco-te,
Trago-te de volta
Para te rever, assim, tão gracioso,
Ao meu redor, de sorte
A demonstrar o mesmo ar e riso
Na pressa de carregar minha bagagem
Naquele dia que te chamei,
Em que a chuva corria
E eu dizendo,
“ Vem, vem...”

Não quero entregar essa tua imagem tão vivida
À sucessão de cores, de paisagens;
Que insistem em substituir as telas da retina
Quero que tu sejas infinitamente
O meu pingo d´água
Qual a chuva fina que caiu no dia
Em que eu te guardo com tanto cuidado

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