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O que devo fazer para prender um bem?
Deixarei de ser poeta das vislumbrações
E a tradutora de minúsculos pesares
Para ser como as lavadeiras das cidades
Dos fundos dos sertões ou típicas mineiras
Faceiras cidadelas,
De eiras miseráveis, pobres cidadelas...
Serei como aquelas lavadeiras simples e descalças,
Que quando batem roupa,
Cantam os amores já vividos e perdidos
E os muitos amores que ainda hão de vir em meio à lida
Serei arisca, mal falada e ardida,
Mulher escura, maltratada, forte,
Alternando esfregas entre o sabão e os corpos.
Para meu bem, poetas não possuem visgo ou sexo
Nem são o raso rio cascalhado das lavagens
Meu bem me quer em roupa amontoada a ser socada,
Sabão de pedra e cinza,
Árduo trabalho de mãos e de coragem
Não sou a água que enxovalha os panos,
Sou o barulho d´água que passa entre os cascalhos
Nem sou a roupa, jogada e amontoada
Mas a brancura da roupa, a palidez do pano,
Sob a luz que bate no algodão entretecido e usado
Para prender um bem,
Quem me dera tivesse as pernas da matreira
Ou o grosso dorso das mulheres simples e mineiras
Mas o que tenho?
Tenho palavras e todo sentimento atordoado em sons
É pouco, é muito pouco,
- Meu Deus, porque é pouco -
Para se prender um bem pra vida inteira?
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