08 June 2009

O QUE ME PASSA?


O que me passa, o que me passa?
Onde estão as ararinhas azuis
que eu perseguia,
onde está o avental de tecido azul ,
sujo de massa,
onde foram parar as essências
amareladas de hortelã
que acondicionei por dentro do armário?
Hoje amanheceu, mas não amanheceu,
sabe como é quando amanhece para toda gente,
e as pessoas circulam,
meticulosas, na limpeza da casa,
nas compras pequenas,
nos pagamentos devidos para cada dia,
naquela atividade da tagarelice
alegre e tola?
Entretanto, para mim,
ainda é aquela sexta feira;
a noite uiva à fresta da minha janela,
os carros perfilam, cuidadosos,
arrastados pelo frio,
os barulhos já não são mais de alegria
e um silêncio fino que cimenta meu espírito
também me cala.
O que se passa no mundo que eu não sei?
Essa pergunta levanta ondas e persiste,
me azucrinando os dois ouvidos
quando nenhuma resposta me vem
para consolar as minhas carnes
já frias e já desanimadas.
Se eu sorrio,
é um sorriso de sexta feira
e se eu choro,
é um choro para a semana que virá.
O que me passa?
Longe de mim,
estão as vissicitudes do dia
Perto, porém,
está a realidade minha
que é o atempo, o antigo,
a antítese do acalcinar.
Não sou triste; não estou triste;
nunca serei triste,
sou apenas a metade do que já fui
e a metade do que a vida ainda me fará.


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