30 September 2010

A FÉ DE VÓ MARIQUINHAS



Vó Mariquinhas 
me encosta as costas gordas
no meu passado estranho.
Canto com vó Mariquinhas
as contas do terço preto
enquanto ajoelhamos, circunflexas.
Quem teve uma vó Mariquinhas
não perde a fé,
apenas não sabe onde a colocamos.

O TEMPO QUE AFOGA



Justamente hoje, 
que tanto eu precisava de um azul
me aparecem uns cinzas desmaiados.
Do belo que a poesia me dá,
o tempo afoga.

29 September 2010

CANÇÃO PARA A FELICIDADE




Uns montinhos de gemidos,
uns gritinhos de excitação
é a felicidade pouca que machuca.
Teus olhos fixos no meu rosto
tua barba dura me apontando
todos os  pelos rudes do teu corpo
esta é a felicidade ilícita
que alimenta e cura.

CHUVA



Chovi como chove o tempo
Hoje meu tempo é chuva
de água que lava mais.

28 September 2010

GIOVANA



... e chegou a poeirinha
para assentar-se aqui.
Veio abastecida de uns olhos escuros,
daquela sabedoria secular,
que se aprende devagar
e no entanto, acaba de chegar...
Se a boca ainda não fala
 quando falar, 
será sobre a beleza
porque ela é a beleza
que ainda não fala,
mas que à hora certa
se manifestará...
Ela é ínfima, 
porque é pequena
mas é grande
porquanto é amada.
A espera pela chegada dela
para nós 
que somos gente 
avessada de vida,
terminou,
e a vida dela começou
para assentar em nós
(pobre gente avessada)
a esperança mansa
que respira, trêmula,
 por sobre a surpresa
da felicidade.

UM POEMA


Um poema é um poema;
cabedal, o que suplanta o corpo.
Pode  salvar vidas um poema
se vidas pudessem ser salvas.
No entanto, um poema é mais que Deus
e mais do que Deus ele pode;
quanto mais belo,
mais cura,
e enquanto eterno,
mais forte.

24 September 2010

QUEM É VOCÊ, MEU LEITOR?


Com quem divido minhas palavras?
O vento que sopra aqui,
que nome toma?

DIVINDADE



Me custa falar de reverência a uma divindade
que nunca sofre.
Na humanidade há beleza
porquanto há contrição.

23 September 2010

SAUDADES



Para se ter saudades
é preciso ter havido satisfação.
Só eu conheço uma saudade 
assim extraviada;
Tinha dor e tinha paixão.

SETEMBRO



Sai setembro,
liso como uma folha
e não me deixa quieta.
As tardes mais quentes
que virão serão das crises,
as promessas
e as noites mais tórridas,
saudades dos lamentos.

17 September 2010

NO DIA DOS MEUS ANOS




Hoje me sou uma igreja afastada
e a minha carne me devota e reza.
Neste dia dos meus anos,
a presença ruidosa dos pardais 
voando por dentro do meu templo 
me congratula pelo que recebi
de útil, de belo e de concreto.