30 November 2010

QUEM BATE?

Quem está batendo à porta?
Um vento, uma agonia,
ou a mão de algum sonho
que eu não quis à revelia?

29 November 2010

AINDA A ROSA



Ainda falemos de rosas,
falemos da suavidade 
e da carícia,
e deixemos para trás
as correntes de ferro.
Falemos das rosas sisudas rubras
que nos demos
e que hoje jazem secas
no porta retrato
que me destes.
Falemos de rosas
e respiremos rosas
de modo que nosso hálito
seja rosado 
como a cama que nos desvirginou.
Eu era a rosa tímida
e tu, o haste ereto que sustentava
a rosa desbrochada.
Falemos hoje  da ternura 
para que a rosa um pouco sobreviva
embora, decapitada e muito só.

27 November 2010

A ROSA


Desejei que me tivesses dito:
"Oh, maravilhosa!"
Desejei que me tivesses estendido tua mão
e que dela tivesse vindo  a manta verde musgo
dos teus sonhos que trouxeste do Peru;
desejei que me tivesses falado de uma poesia branda
com a voz amaciada pelo rum
e que tivesses me tirado para dançar
com a rosa ao ombro.
Desejei ser tua
e tua fui,
e agora, que é de noite
e que sinto frio,
nem tua manta peruana,
ou tua mão penosa
me consolam.
Ficou a rosa, aturdida
desbotada e crua.

26 November 2010

PIEDADE



Teria esse meu coração um pouco de piedade?
Pudera meu coração ter a misericórdia dos algozes,
e matar, matando de verdade
aquilo que me cresce dentro deste peito,
quer seja a ilusão que ainda vive,
ou seja a morte na  falta de coragem.

ESPERANÇA



Tenho tão pouca esperança
e tanta esperança
em ter esperança!

AMOR, AMOR, AMOR


Gouveia me telefonou, aflito.
Disse que tinha sofrido um golpe de ar
e por isso não poderia vir me ver.
Amaldiçoei o ar, o golpe, o telefone,
mas jamais condenarei Gouveia.
Pelo fio, enviei-lhe graças 
mais que benfazejas
e quando o som se rompeu,
e Gouveia se foi, 
impedido pela quebra do espaço,
naquele acesso de amor exaltado,
engoli o ar que o golpeara.

PARTIDAS




Não defendo partidos
posto que sou única;
e por assim ser,
entendo unicamente de partidas.

24 November 2010

CANTO DA MESMA NATUREZA

Olho a natureza que há em mim,
e aquela que me está por fora.
É a mesma natureza
embora esta 
que aqui dentro abrigo,
na passagem pelo tempo
tira-me  as esperanças,
e a que está externa,
ressurge da esperança
que em mim havia outrora.

AMAR


Amar das cinzas de uma antiga piedade...
Amar tanto, amar completamente,
amar sem que a desmedida
seja profana ou sem peso.
Amar, amar, amar,
plena de uma felicidade 
que não espera, mas faz.

22 November 2010

NOTÍCIAS



Hoje tive notícias de ti,
alvissareiras e breves,
notícias de ar fresco
quando estamos perto da praia.
Uma só notícia e a praia remontou-se
para haver água de azul
e areia molhada;
tudo aquilo que um dia amamos tanto
enquanto nos amávamos.

18 November 2010

SORRI



Pois que meu sorriso habitual se fora
uma semente de pitanga
veio cair por cima do meu rosto...
E as pitangas vieram, peroladas,
de uma impressão tão falsa, vegetal
que meu sorriso sorriu dessa invenção
e o que emergiu dentro de mim
foi uma felicidade de espírito e de verdade.

17 November 2010

POEMA PARA MEU AMOR ETERNO



Que mais posso fazer
senão amar-te
ainda mais do que
amaria a mim mesma?
Tenho receios de ser
uma pomba de asas abertas
e de nunca poder pousar
visto que o pouso seria o trágico
dentro do muito amor
que eu conheço.
O que me move em ti é a dinâmica
e o que me farta é essa tua jornada
contínua e louca.
Enquanto houver amplidão de luz
aí eu estarei
posto que és luz
e és também a amplidão 
daquilo que é perpétuo

14 November 2010

SEM INSPIRAÇÃO



Eu sou uma mulher
com uma cancela à frente
e está fechada esta cancela.
Quem a abrirá?
Me coloco deste lado
e não grito nem chamo.
Há dois dias que
me levanto e me deito
e a cancela ainda assim
se mantém ereta e cerrada.
Deus não intervém
porque este não é o seu negócio,
e o meu próximo está tão distante
diante da sua própria cancela fechada.
Para os poetas,
reside imensa a liberdade do ir e vir.
Mas hoje a minha poesia suspendeu-se
tirou umas férias forenses
e eu me vejo aqui, torturada, aflita,
desprovida da imunidade literária

12 November 2010

A MAIS BELA CANÇÃO DA MINHA VIDA

CORRA COMIGO


Vamos, meu bem,
corra comigo,
vê aquela árvore no fim da linha
que o horizonte limita?
Vê seus frutos?
Queiramos a sombra daquela árvore
comamos seus frutos...
Vamos rápido, que o tempo corre
mais do que corremos juntos,
já que nosso horizonte também limita
nossas cruzes.

06 November 2010

O ETERNO


Sou aquela que o eterno espia
e deseja;
sabe que me possuirá um dia
lânguida, largada.
Chegarei até o eterno
como a noiva virgem
amedrontada,
mas ensandecida
com seu destino.