26 August 2009

ADEUS, QUERIDO TOFFI


Por ter sido a mais forte presença em minha vida,
por ter me amado
mais do que meu próprio pai me amou,
por ter me adorado
mais do que minha mãe tivesse condições de me adorar
por ter exigido de mim
a ininterrupta presença convertida,
mais do que foi precisado em vida,
por ter me dado um pedido suplicante de afeição
dentro do seu amor repleto de verdades,
partiu, por minha própria mão e decisão,
pois o amor, dentro de suas liberdades,
conforta e chora o que ficou imenso de saudade.


23 August 2009

SOLILÓQUIO

O que sei, eu multiplico
e o que eu penso que sei, eu apago.
Trago hoje um baú cheio
de meus conhecimentos parcos
e uma memória repleta de apagadores
que nunca foram usados.

22 August 2009

ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS




Cadeira 17, Patrono Visconde do Rio Branco
Posse em 28 de Agosto de 2009 - 20 horas
Salão Nobre da Biblioteca Padre Euclides
Rua Visconde de Inhauma, 480, Centro
Ribeirão Preto - SP


19 August 2009

ESCREVO COMO QUEM SOFRE

Escrevo como quem sofre, mas não sei se sofro em verdade.
Escrevo linhas que me perturbam o pensamento, reiterante e sério, sem me dar descanso ou libertação, depois de tempo de escravidão prolongado. Escrevo para mim mesma, naquela atitude útil de quem necessita e de quem progride, porque contrariamente, tais pensamentos se perderiam como a água na pia esvaziada.
Entretanto, nunca me volto para trás para reler aquilo que foi de alguma forma, deitado por sobre o papel. Isso seria insanidade, falta de senso, um tempo perdido de vadiagem.
Meu pensamento insiste em incindir em desorganização e falta de uma coerência linear, apenas discorre, solto, igual cavalo selvagem, pelos prados imaginados da minha consciência.
Duvido muitas vezes, enquanto escrevo, da veracidade de minhas paixões e da falta de coragem de por ora, expor um pensamento nu e escancarado. Para me eximir dos motivos, muitas das vezes, mascaro esse pensamento torto em alguma figura de linguagem que possa me esconder ou possa, em última instância, indefinir aquilo que para mim mesma seja de completa indignação ou até mesmo de impraticável ato.
Quando faço poesia, não me julgo poeta em essência, porque não o sou de fato. A poesia necessitaria de um elemento pueril e franco, do qual não disponho.
Escrevo um texto de perturbações e de uma indicação de plena inconformidade com aquilo que entendi por vida, mas nao a tendo vivido como um todo, rejeito a definição e aguardo um laudo.
Por ainda não saber rimar "amor com dor", venho recusando feericamente aquilo que a poesia cobra de mais caro; um leve pousar de asas de anjo ou um sopro de cristal sobre as palavras.
Minha poesia tem sido dura e cáustica, e tem erigido em mim um borbulhar quente de misturas ácidas, e sendo assim, por não ter promovido em mim, nem a doçura, nem a saciedade pelas coisas eternas, confesso-me aqui uma procuradora de palavras, que se não me confortam, ainda me atraem.

A ÚNICA HIPÓTESE DO PERFEITO


Quando um amor me suja, eu tenho medo.
Por conseguinte, um amor sujo contaminará a minha mente

nas condições breves de fragilidade
da sustentação de um beijo.

Um amor sujo deixou de ser a gema excelente,
não porque tenha se corrompido por si mesmo,
posto que seja factível de defeito,

mas por ter manchado o que fora para mim,
a única hipótese do perfeito.

POESIA DE FERNANDO PESSOA

Neste momento leio Fernando Pessoa em poesia dos Cancioneiros.
É uma poesia triste, porém de uma tristeza compactada de réstias de pouca esperança.
Não fosse aquilo que me prende à vida, eu não compreenderia que a poesia de quem supôs ser poesia, encabeçasse a rota insistente de pensamentos e anseios profundos, qual lago sujo que a lua visita à noite.

Quando Fernando Pessoa sofre, sofro igualmente.
Não porque o conhecesse, mas porque possuímos, juntos, eu e ele
a mesma matéria noturna de que fomos feitos quando do espocar da humanidade.
Uma poesia que se conhece única, original e primitiva,
que é o sentimento asfixiante e impotente diante da nossa miséria,que vem a ser injusta, de uma mão feitora e atemporal.

17 August 2009

ANJO DE MIM


Um vento soprando ao contrário de mim...
Dentro de si,
um anjo batendo umas asas longas de cimento...
Imóveis,
eu e ele estamos
e com a vida,
não nos importando.

POEMA DO SIGNIFICADO


Mostre-me como a vida pode ser bela
segundo os prescritos antepassados de nossa história
e ajude-me a juntar ponta com ponta
daquilo q1ue ainda não compreendi
e não sinto que compreenderei, lastimosa.
Ontem a noite, um balde de escuro
foi derrubado por sobre o meu sono
e atolei-me nele.
Não foi em vida que soube o que é a morte
e tampouco em sono foi que entendi sobre a vida.
Entre o sono e a vigília,
busco uma beleza que se despespera
e um significado que se banaliza
Mostre-me como é sentir-se, quando se é banal;
que me banalizarei na pura intenção ilícita.


12 August 2009

TRISTEZA DE HOJE


Minha mãe está me chamando no quintal,
Vem almoçar, menina...
Mãe, quanto custa retroceder no tempo?
Está tarde demais para o almoço,
para se ouvir a barulheira da casa,
imaginar a água esvaziando a torneira, desperdiçada?
Está tarde demais para o sossego,
e para a própria vida renegando a dor?
Atrasei-me, minha mãe,
e agora a mesa está esticada e fria
e nem mais as vozes, aqui dentro são ouvidas
na rotina esplendorosa da beleza
do que foi.

POEMINHA DA MANHÃ DE AGOSTO


Sonhar um barquinho azul
soprar-lhe ventos de apagar as velas
remover-lhe os obstáculos para que ele navegue livre
imaginar-lhe as rotas estrangeiras,
partilhar de um azul jamaicano
que desconhece as pérfidas geleiras.
Falar em dialetos cratos,
roubar os inconscientes das brancas almas santas
e percorrer descalço o caminhos que estão suspensos...
Que o homem que se desconheça, se descubra,
e o bem que não se desnudou, que se revele.

07 August 2009

MINHAS PALAVRAS




Longe dos cálculos, o matemático
reconta mentalmente os números de par a par
Longe das panelas, a mulher simples se arvora
e inventa pimenta e cravo onde há pedra e asfalto.

Longe das letras,
eu recontei a história para mim de cabo a rabo
do que eu sabia que eu sabia mais
Posto que não tem fim essa história,
verdade que me constrói e que me tarda,
fruto de lonjuras e de proximidade,
voltei às lendas das minhas palavras

O TEMPO E A PÉTALA DA FLOR


Agora mesmo que caiu a pétala do caule
e repousou suave sobre a mesa
não supôs ela que o desligamento
lhe roubaria o enverdecimento e o frescor.

Agora mesmo, que o tempo afasta
o gesto de mão que ocasionou calor
não supus eu, ingênua que ainda sou,
que um frio de longos braços aconchegue
a pétala, o caule e o meu amor.

POEMA DA MINHA VIDA


Minha vida é uma cobra ao sol,
vigorosa, insinuosa e lenta,
agressiva em sua natureza,
leve e prazerosa em sua intimidade.

Minha vida, quando é tocaia,
também é exato bote,
mas quando é prazer,
antagônica da condição primeira
sabe ser farta de benevolência
que se explica em quentura e calma.



PONTES


Cai a ponte na Guanabara
e igual ponte cai em Minas
Os homens legarizaram das pontes, a passagem
e a natureza desfez os seus caminhos.

Dentro do meu coração há um legado de permissão
e um bloqueio estrondoso de arbítrios
que ora erige um sentimento assegurado
e que cai por terra, após corroborado.

02 August 2009

POEMA DAS CHUVAS PROMETIDAS


Todas as chuvas prometidas vieram;
a primeira lavou dentro de mim
e a última, batizou meus acertos
Benvindas chuvas, abençoadas chuvas,
tudo em mim é safra adiantada de poesia
e tudo lá fora é a imaginada e confirmada poesia.