19 August 2009

ESCREVO COMO QUEM SOFRE

Escrevo como quem sofre, mas não sei se sofro em verdade.
Escrevo linhas que me perturbam o pensamento, reiterante e sério, sem me dar descanso ou libertação, depois de tempo de escravidão prolongado. Escrevo para mim mesma, naquela atitude útil de quem necessita e de quem progride, porque contrariamente, tais pensamentos se perderiam como a água na pia esvaziada.
Entretanto, nunca me volto para trás para reler aquilo que foi de alguma forma, deitado por sobre o papel. Isso seria insanidade, falta de senso, um tempo perdido de vadiagem.
Meu pensamento insiste em incindir em desorganização e falta de uma coerência linear, apenas discorre, solto, igual cavalo selvagem, pelos prados imaginados da minha consciência.
Duvido muitas vezes, enquanto escrevo, da veracidade de minhas paixões e da falta de coragem de por ora, expor um pensamento nu e escancarado. Para me eximir dos motivos, muitas das vezes, mascaro esse pensamento torto em alguma figura de linguagem que possa me esconder ou possa, em última instância, indefinir aquilo que para mim mesma seja de completa indignação ou até mesmo de impraticável ato.
Quando faço poesia, não me julgo poeta em essência, porque não o sou de fato. A poesia necessitaria de um elemento pueril e franco, do qual não disponho.
Escrevo um texto de perturbações e de uma indicação de plena inconformidade com aquilo que entendi por vida, mas nao a tendo vivido como um todo, rejeito a definição e aguardo um laudo.
Por ainda não saber rimar "amor com dor", venho recusando feericamente aquilo que a poesia cobra de mais caro; um leve pousar de asas de anjo ou um sopro de cristal sobre as palavras.
Minha poesia tem sido dura e cáustica, e tem erigido em mim um borbulhar quente de misturas ácidas, e sendo assim, por não ter promovido em mim, nem a doçura, nem a saciedade pelas coisas eternas, confesso-me aqui uma procuradora de palavras, que se não me confortam, ainda me atraem.

2 comments:

Anonymous said...

Um maravilhoso texto. Palavras que me deixaram atônita:

"confesso-me aqui uma procuradora de palavras, que se não me confortam, me atraem. "

Parabéns!

VERSO SONHADO said...

Cecília, concordo;
"escrever é orar sem perseguir a graça"(F) É como me sinto.
gosto muito do que você escreve, já disse. Parabéns!