18 August 2006

BONITA


Porque hoje acordei bonita
Passei água de cheiro nos cabelos e perfumei meus seios,
Úmidos, perfeitos,
Junto com a expressão da alma que também está particularmente farta,
Alma que tem hoje o cheiro das laranjeiras
E o frescor da mina d´água que conheci quando criança.

Porque estou bonita, festejo a alegria
De receber nos olhares duvidosos de todas as mulheres
Que adivinham em mim
O que lhes falta ou que um dia lhes bastou...

Porque hoje o dia todo estarei bonita,
Não há como não celebrar meu passado em meu corpo,
Brindar o meu presente,
E lastimar o futuro dele
Que ainda vem, com suas misérias da velhice.

Nego até morte as vicissitudes da idade,
Procuro a senilidade, mas eis que ainda não está,
Tenho o corpo forte de um cavalo
Que sensualmente respira e trota,
E o espírito leve das vespas,
Inéditas, a agitar impacientemente o ar.

Se sei que estou bonita,
Porque não só o espelho mostra,
Mas a vontade do assim-ser confirma,
Adio agora as parcelas de futuro neste meu corpo
Invento que a vida estanca,
E como sou bonita!