03 September 2006

TODAS AS MULHERES


Todas as mulheres do mundo estão em mim nesta noite,
Cada uma delas, com seus bordados, os aventais, a lida,
Suas solidões de filhos, as conversas banais,
Os objetos cuidados, a saúde de todos observada e preservada.
Aquelas que são amadas e as outras,
Que recebem a mais profunda negligência do amor;
Que não conhecem a leveza dos dedos, e sim o jugo do amor cobrado;
Carrego as permissivas, as que cruzam as pernas e oferecem não mais do que o desejo,
As que reinventam o amor, o amor de noite,
Mas que é um amor triste, que não é o meu.
Tenho em mim as traídas, que perseguem o amor inútil,
Um amor do homem que jamais se transformará,
Porque não sabe o conhecer de si mesmo, e, portanto, não ama.
Sou a mulher simples, a mulher parda, branca, negra e comum;
A que trabalha doze horas ao dia e que tem a alegria de ser sozinha,
Que só conhece o mutirão, o grupo dos seus, a força do grito.
Estou naquela mulher esbelta de blusa estampada,
Escolhendo os pepinos na quitanda da rua
E que os apertando, apenas na intenção da saciedade;
Quer expressar desvelo e cuidado na refeição da tarde,
Que junta os seres, mas que também separa as vontades.
Sou a mulher do mundo, única e integra em mim mesma;
A mulher das capitais, metrópoles,
A mulher do beco, todas as mulheres das roças e canaviais,
A mulher oriental e a emancipada,
As feias, as cheias de graça, as puras,
E as que não são mais.
Nesta noite quente, de poucos avisos e sem surpresas,
Em que as mulheres do mundo todas circulam,
Cada uma em sua função de acertos e erros,
Carrego as tristezas delas, carrego também as farsas;
Sou eu, em muitas,
No inconsciente de todas as nossas competências.
Por isso, sofro.

1 comment:

Anonymous said...

Sua foto está linda,querida.as expressões perfeitas verdades,parabéns pela presença de espiríto nas mesma.Te gosto de coração,com carinho. Nice