09 October 2006

AS FITAS


Dedico este poema à minha, até hoje secreta leitora, Márcia, que me acompanha diariamente nas minhas dores e tão poucas alegrias que registro, incansavelmente registro. Ela também me lê, incansavelmente, e em mim reconhece que o sofrimento do poeta só não é maior porque a poesia nos recria e salva.
Obrigada Márcia, por me ter me falado coisas tão especiais, que depois delas, só pude transformar as minhas dores negras em cores avivadas. Graças a você. O coração porém... este precisa ainda de cuidado.
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Hoje eu quero me enfeitar de fitas
Um laço nos cabelos, dois laços na virilha;
Os nós entrelaçados de cetim
Púrpuros, escarlates ou verde oliva,
Esmaecidos tons pastéis por cima do umbigo
Um laço cor de rosa em cada dedo
Um laçarote azul atando o pensamento.

Cada cor em seu lugar me contará a história
Em que foi preciso transmutar a dor
Mudar-lhe seu matiz
E transformar o outrora cinza desesperançado
Pela cor vigente da razão e sorte

E sobre o peito,
Este peito arrasado pela vida
Este peito que sofre todas as taquicardias
Que arde e que repele,
Que busca e que não acha
Por sobre esse peito ainda tão dilacerado,
Uma fita preta
Perene aviso de decepção e perda
O símbolo da angústia e da passagem,
O luto que ainda vive em mim
Mas que não passa.

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