05 October 2006

INOPERANTE


Eu não vou falar que vou
Por que o verbo de movimento ir é muito trabalhoso para mim
Requer as pernas e requer coragem
Requer visionar linhas de paisagens
Requer preparar a matula e seguir em frente
Então eu vou falar que fico
Porque o verbo ficar
Requer que as pernas se estendam no infinito
Os olhos se desmanchem sobre a cama
Meu tórax se expanda em flor de bananeira
E que eu fique assim
Poeta, ociosamente poeta,
Um poeta estático e inoperante
- Como dizem os técnicos das máquinas -
E não vou me mover mais um milímetro
Os poetas não são de movimento
O movimento é o que intriga o poeta
Poeta é ser, é viajar por dentro
Não há nada lá fora que o atraia.

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