26 November 2006

DESCOBRIR O AMANHÃ


Depois de um certo tempo
Depois de bater a cabeça cem vezes no muro
Depois de me arrebentar pensando o tudo
Depois de me comover com as atitudes mais banais
Depois de comer até as tampas um prato que nem gosto
Depois de ter amado alguém e não ter visto o troco
Depois de me achar arrasada com o mal
Depois de ter me dado um átimo de tempo
De ter-me vestido de rainha
E me despido em monge
Para uma única noite de amor
Depois de tudo, desses anos longos
De vinagres e orgasmos
De sal e talco,
De açoites e assombros,
Descubro-me no mais frenético prazer
Prazer que não dói e onde não faz pecado
Que é o acordar cedo,
E ver o fim da madrugada
Que não me pergunta o que sou
Nem me responde que nem sim, nem não
É a oferta honesta do meu dia
É o dia de hoje,
Se o amanhã existe,
Já inexiste em mim nesta manhã.


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