14 February 2007

ESPANTALHO


Disfarçar-me de espantalho
E atormentar-me nas noites que passaram
Com a resignação de padre
Foi esta a condenação
À toda uma existência desprezada
Se eu falava um gracejar ameno
Se eu demonstrasse um pouco da tristeza
Tudo seria inútil entre nós
Não houve armistício, houve guerra
Eu, por minha vez com lenço branco à terra
Tu, com a alma de morteiro sobre minha pele
Fina, e por amar tanto, desejosa.
Não é sujeito o entendimento à fala
Nem aos sussurros que a noite ampara
Tuas palavras foram iguais aos atos
Teus atos, sem misericórdia e sem piedade
E eu, atônita, transformando-me em espantalho.
Ainda sou o espantalho;
Tu, o pássaro.

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