26 February 2007

ME ERRA


Quando falar comigo, me erra
Não é possível conversar com um poeta
Como se faz quando se conversa com uma irmã
Um pai, um afilhado
Você me fala na chuva espetacular que caiu à tarde
E eu penso nas belezas das floradas
No verde em clorofilas que virá
Depois da chuva que acabou com a cidade
Quando falar comigo
Fale-me de brisas azuis
Da fênix renascida e recultivada em mim
Fale-me dos quindins da minha avó
Do jorro fresco da bica que não me larga mais
E que ainda borbulha toda a inocência em nós
Fale-me do sentimento eterno do mundo
Que é a compaixão
O coletivo inconsciente da miséria que nos ronda
O comprometimento de estar aqui
Mas viver intensamente o acolá no meio fio das coisas
Mas não se torne como eu,
Me erra;
Permaneça com sua essência de terra e de cascalho
De sombra e luz
De verdades discutidas e inverdades comprovadas
Deixe para mim a volatilidade,
Porque eu não me compreenderia
Você não me compreenderia,
Nós não nos compreenderíamos
Dentro da mesma linguagem.

1 comment:

Anonymous said...

Adorei. Coisa mais linda, cheinha de lembranças.

Zazá