25 March 2007

DOMINGUEIRA



Minha poesia hoje não cabe mais em mim
Aqui dentro tudo tem se tornado natural
E o mais que tudo deixou de ser de plástico
Ainda não sei o que aconteceu
O sol nasceu à hora que sempre nasce
E as frutas do quintal nem sabem que é terça feira
Mas aqui dentro,
Aqui bem dentro de mim,
As terças passaram ser as domingueiras
De quando era criança, a casa cheia
Meu pai, logo cedo, na limpeza das gaiolas
Aquele canto que parecia um riso dos passarinhos da terra
O vento batendo na mangueira
Um disco de boleros na vitrola,
A água que corria da torneira.

É terça feira
Mas aqui dentro a poesia repica o calendário
Minha poesia sabe que o enfrentar da vida é áspero
Mas não se resigna, não aceita
E hoje aqui dentro
Ainda é domingueira.

1 comment:

Anonymous said...

Como é gostoso sentir esse recordar poético da Cilinha! Mesmo envolto numa espessa neblina de sonhos, de angústias e de aspirações, a gente nota que o impulso, que o estro, parte de um coração que ama e conhece muito bem o que é o Amor.
Parabéns, querida, por conseguir traduzir em versos a trama que nos vai na alma.