Dedico esta crônica ao meu querido cunhado Deodoro, uma alma pra lá de especial, que tão gentilmente me apresentou Itu e por quem sou grata pelo carinho e atenção.
Ontem conheci Itu.
Itu não devia se chamar Itu, devia ser chamada de It.
"It" é o pronome singular neutro da língua inglesa, que serve para nomear tudo que não é humano, tanto no masculino quanto no feminino. Nos anos 40, o "it" passou a figurar na linguagem brasileira quando se queria dar noção de algo que fosse único e bom, fruto da exposição do cinema americano no Brasil. Era comum dizer: " Fulana é especial, ela tem "it", inserindo aí uma porção de coisas positivas e benfazejas, como se encerrasse ali tudo que não se pôde dizer, de tão bom que era.
À hora que fui, não estava tão frio, mas havia um vento encanado que tubulava por entre as calçadinhas, muitas de paralelepípedo, irregulares e tão estreitinhas, com aquele ar de Brasil colonial. Achei que as casas eram antigas demais para os meus olhos viciados em edificações modernas. Muitas casas de portõezinhos baixos de varanda com samambaia, uns vasos de gosto duvidoso à frente com "espada de São Jorge", tão feios e fora de moda. Uma gente simples e uma cidade simplérrima, contraste de urbano com vilarejo de cidadela fora do estado.
Apesar da apelação turística do exagero, onde tudo é absurdamente grande e projetado para ter graça, fico me perguntando o que fazer numa cidade como Itu.
Provavelmente, nada, como sonho um dia em viver; fazendo aquilo que ninguém aceita que eu faça, ficar olhando o vento mudar de direção e observando as pessoas que passam. Como aquelas duas senhoras que estavam à janela de uma das casas , os cabelos curtos e acinzentados; quando passei, na garupa da moto, casaco, luvas e capacete de motoqueiro, tão indefinida quanto as samambaias das varandas e tão escondida quanto os altares dessas mesmas casas, ainda assim vislumbraram meu sorriso encantado e maroto por trás da viseira e me abanaram a mão...
Nunca entenderei como puderam me reconhecer, essa poetinha que ainda se deslumbra com tudo, que ainda se enternece com o comum e que valoriza os gestos mais banais, que espera reciprocidade de alma e que que deseja só isso da vida, a simpatia pela simpatia e o amor pelo amor, gratuitos.
Como posso me esquecer de agora em diante de uma cidade que neste momento já tem seu pronome próprio e distinto para mim?
Jogo fora o " U", desejo apenas o " IT"; é o que está certo.
Ontem conheci Itu.
Itu não devia se chamar Itu, devia ser chamada de It.
"It" é o pronome singular neutro da língua inglesa, que serve para nomear tudo que não é humano, tanto no masculino quanto no feminino. Nos anos 40, o "it" passou a figurar na linguagem brasileira quando se queria dar noção de algo que fosse único e bom, fruto da exposição do cinema americano no Brasil. Era comum dizer: " Fulana é especial, ela tem "it", inserindo aí uma porção de coisas positivas e benfazejas, como se encerrasse ali tudo que não se pôde dizer, de tão bom que era.
À hora que fui, não estava tão frio, mas havia um vento encanado que tubulava por entre as calçadinhas, muitas de paralelepípedo, irregulares e tão estreitinhas, com aquele ar de Brasil colonial. Achei que as casas eram antigas demais para os meus olhos viciados em edificações modernas. Muitas casas de portõezinhos baixos de varanda com samambaia, uns vasos de gosto duvidoso à frente com "espada de São Jorge", tão feios e fora de moda. Uma gente simples e uma cidade simplérrima, contraste de urbano com vilarejo de cidadela fora do estado.
Apesar da apelação turística do exagero, onde tudo é absurdamente grande e projetado para ter graça, fico me perguntando o que fazer numa cidade como Itu.
Provavelmente, nada, como sonho um dia em viver; fazendo aquilo que ninguém aceita que eu faça, ficar olhando o vento mudar de direção e observando as pessoas que passam. Como aquelas duas senhoras que estavam à janela de uma das casas , os cabelos curtos e acinzentados; quando passei, na garupa da moto, casaco, luvas e capacete de motoqueiro, tão indefinida quanto as samambaias das varandas e tão escondida quanto os altares dessas mesmas casas, ainda assim vislumbraram meu sorriso encantado e maroto por trás da viseira e me abanaram a mão...
Nunca entenderei como puderam me reconhecer, essa poetinha que ainda se deslumbra com tudo, que ainda se enternece com o comum e que valoriza os gestos mais banais, que espera reciprocidade de alma e que que deseja só isso da vida, a simpatia pela simpatia e o amor pelo amor, gratuitos.
Como posso me esquecer de agora em diante de uma cidade que neste momento já tem seu pronome próprio e distinto para mim?
Jogo fora o " U", desejo apenas o " IT"; é o que está certo.
1 comment:
Ceci,
Gosto de Itú.
Gostei do texto.
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