
Você me lê, eu eu não lhe vejo mais
Perdi-me do seu rastro
Quando eu era uma criança muito pequena ainda
Li sobre a pérfida história de João e Maria;
Para não se perderem na floresta assustadora, 
Mas ainda de dia,
Quando a floresta traz a ilusão segura do sol
Iam jogando atrás de si as migalhinhas de pão
A fim de retomar o caminho quando desejassem
Os passarinhos comeram todas as miseráveis migalhinhas
Não foi possível haver a volta para casa
Anoiteceu de repente,
A florestou surtou com todas as cores escuras
Das minhas canetinhas hidrocor.
Perdida estou também na floresta do meu mal
O rastro que eu deixei,
não houve passarinho que desmanchasse
(o passarinho é poesia e poesia não desmancha o amor)
eu mesma recolhi como se recolhe um anzol
Para não haver nem volta, 
nem comunicação com o lá de fora.
O tenebroso, quando existe, 
Não resiste à trilhas, nem à amor mal amado
É tenebroso em mim, 
É tenebroso nas histórias infantis
No outro que me cativou
E nem teve pena quando me perdi
Apenas sorriu-me um sorriso brando, 
Apelou para o injustificável
Balbuciou por entre os dentes palavrinhas atônitas
Mal mandadas, 
Inconsistentes de dar dó 
E me condenou.
Porque não sou mais a criança abobada do passado
Porque sei ler de trás pra frente as histórias escabrosas
Retiro de mim o começo
E a partir de agora, reconto a história pelo fim
Começo assim; 
FIM.
 
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