14 May 2009

SE EU FOSSE COMO TU


Recebi hoje pelo postal
uma carta me enviando felicidade
Não seria a felicidade

aquilo que cobiçamos?
Veio a carta selada,

a cola grudava a estampa,
papel alvo, como a alma

daqueles que não pecam
e uma identificação

de remetente estranha,
que muito soava a engano,

engano que te quero engano...
Não foi possível abrir a carta

pois nunca é possível abrir

uma felicidade fácil,
posto que para ser vivida,

lembrada, desfrutada,
a felicidade necessita

ser guardada de nós.
Poetas como eu

recebem coisas extraordinárias,
mas como poetas,

recusam-se a usá-las.
E o que seria de mim,

se eu fosse como tu?
Alegremente tola,

profundamente mansa,
ridiculamente pacífica

com os tropeços enormes
e absurdamente tenebrosa

com os cascalhos ínfimos...
Se eu fosse como tu,

eu não amaria o mundo
E se tu fosses como eu sou,

tu não me amarias jamais.

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