31 August 2010

A LIÇÃO DE HOJE - FALAR COM PLANTAS



Hoje de manhã falei para a minha fícus retorcida de duas cores que eu andava muito só; ela nem se importou, ela também anda só; não se dá com as cicas revolutas espinhudas e não consegue mais enxergar o bambu que  mudei de lugar.
Falar com plantas amacia a alma; não porque não respondam; isso seria calamidade; mas porque não se apresentam desejosas, ambiciosas, talvez desconheçam a trapaça  e jamais sairão do seu lugar, salvo eu as mude de cenário, já que delas se obtém companhia fiel, segura e generosa.
Tenho falado com as minhas plantas sobre meus projetos e elas placidamente vêm me demonstrando apoio e justa sustentação; se de uma feita  fazem-me vislumbrar a realidade pontual da vida, por outro lado, vêm me mostrando uma perspectiva feliz de crescimento engajado com as  disciplinas da paciência.
A paciência é a virtude máxima, ouvi dizer dos budistas, e se não fosse, para mim ainda seria a virtude inalcançável, meta para os dias finais;  quem tem paciência não urge de felicidade, e quem possui plantas, da felicidade, tem a ilustração.
Para se falar com plantas, basta fazer o exercício da imaginação dos semelhantes: imagine-se preso ao chão (ou a um vaso, como queira) anos a fio, recebendo a poeira manhosa, os ventos danosos, as cacas líquidas dos passarinhos, a fuligem preta diária, enfim,a muita água e a pouca água; todas as intempéries e ainda assim, subsistir.
Se eu fosse como tu, fícus retorcida, se eu fosse bela como tu, se eu fosse elegante e serena como tu, mesmo podada, mesmo enegrecida pela pouca chuva, eu poderia almejar a excelência do contentamento .
No entanto, porque me movo, porque me desplanto, porque  me reinvento e me crio todo dia, ainda com a pouca  e muita chuva, e ainda com a liberdade da ação,  me confundo e me deparo aqui, a falar contigo. Falo porque te necessito, e decerto porque não aprendi a lição.
O que fazer de vidas móveis que não sabem amar seu chão?
Nesta pergunta, a fícus se retraiu e vi que se calou.
Também não conhece a total resposta da vida a fícus retorcida; e neste seu exemplo de espantalho fincado, sabe o necessário para cada dia;  a mensagem deste dia é apenas que está viva e que depende da minha mão; só por isso me ama e para mim, verdeja.
Até que entendi: amar uma mão atenta que doa,  que nutre e que transforma; esta é a lição de hoje  desta que aqui está ao meu lado, ignorante e iletrada, fícus retorcida de duas cores, companhia benfazeja dos meus dias sós.

28 August 2010

A FELICIDADE DA POESIA



Sou feliz por ser poeta.
Aquele que muito amou
e nem assim venceu
e aquele que muito buscou
e por isso mesmo,
andou em busca daquilo 
que nem sabia que existia,
Este é aquele que persiste,
mesmo faltante,
mas pleno de poesia.

18 August 2010

FOLHA DE JORNAL




Temos fibras duras
e sentimento anão.
Somos pedra e somos pena,
e somos bem menos do que julgamos ser.
Pena que eu não tenha visto a folha de jornal
voando acerca da tempestade.
Ela estava livre 
e eu ocupada
contando daquilo que o jornal falava.

16 August 2010

PARA LÁ ONDE NÃO SEI



Há tantos poetas mortos
e eu que vivo, penso-lhes os mesmos pensamentos.
Que será de mim quando eu morrer?
Meus pensamentos serão os mesmos 
para lá onde não sei?

SÍNTESE






Tento aprender a sintetizar;
para falar do mundo,
falo de mim.

HUMANA


 

Em muita coisa sou parecida com a humanidade.
Às vezes viver dói.

EU




Tenho um sentimento de mundo
e duas mãos.
Meus pés me falham 
e meu chão me trai.

PREMISSA





Depois de viver um pouco, só posso acreditar nessa premissa:
o mundo é só luz e pecado.