23 September 2006

ANDRÉ



Meu peito estava triste, meu filho
O buraco que que se formou
Abriga as coisas todas que ninguém desejou
Nem você, nem eu, nem o mundo
Mas o desejo está em todas as coisas, meu filho
O desejo está na criação de todos os dias
E na morte de todas as coisas que se desejou
O nascer e o morrer,
O criar e o descriar
O vínculo e o desengate
Foram votos de palavras, que cumpridas
Nem sempre foram ajustadas, mas ainda assim,
Foram vividas.

Um dia eu lhe desejei, meu filho
Imaginei seu sorriso grande
E o seu olhar esverdeado
Por baixo da sua cabeleira lisa e farta
Um coração ameno,
Graça de sensatez e raciocínio
A pureza dos sentidos
A sua fidelidade
A música, a minha música, que era só minha
Agora entre seus dedos
O seu falar cadenciado

Assim como o buraco que se abre em rasgo
Aí vem você, o meu desejo antigo
Que em forma de afeto
Se acomoda direitinho pra dentro deste espaço
Que eu nem sinto dor, nem sinto medo
Por ter-lhe assim, bem junto do meu lado.

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