31 December 2006

31 DE DEZEMBRO


No último dia do ano
Perguntam-me, insistentes, o que fazer
Com o próximo da vida
Jogo meus olhos pesados para cima
Percorro o teto à busca de resposta
Que poderia vir em forma alternativa
Como questões fechadas do vestibular;
a) Ir ao cinema muda e sair calada,
b) Matar o passarinho engaiolado,
c) Comer todo o feijão e dispensar a janta,
d) Musicar meus versos sem escrever nada.
Meus olhos fixam-se e grudam-se na mosca
Que pousou à beira do telhado
Vem-me a resposta assim, de imediato
Farei o que já fiz, mas ao contrário
Morrerei primeiro a morte bem matada
Da vida arrebentada e passada
Depois me travestirei de mosca atordoada
Como essa que está aqui, aquietada
Voarei um pouco, só um pouco basta,
Para me assentar de longe,
Ao alto, inofensiva e distraída,
Enquanto o novo ano voe e passe.

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