ENROLAR BRIGADEIRO
Cecília Figueiredo
Para fazer um bom brigadeiro é preciso ter mão de criança, dedinhos finos de moça virginada e unhas de seda das orientais. Um bom brigadeiro não se faz depress; a receita é simples, mas a misturação não é.
O brigadeiro é um doce brasileiro que foi criado na década de 20; seu nome vem do militar Eduardo Gomes que tanto em 1946 quanto 1950, foi candidato à presidência da república.Derrota duplamente frustrada, pelo menos ganhou notoriedade nas festas brasileiras. Na mesma época a Nestlé estava introduzindo aqui no Brasil seu chocolate em pó. Por aquele tempo, devido a grande dificuldade de se obter leite fresco, ovos, amêndoas e açúcar para os doces, surgiu a ideia de se misturar leite condensado ao chocolate. Muita gente afirma que deram esse nome ao doce de forma satírica em homenagem ao militar, já que ele perdera um dos testículos num tiroteio dentro da cidade, ou seja, a piada é que o brigadeiro é um dos únicos doces brasileiros que não leva ovo na sua receita. O cajuzinho e o beijinho também, mas que graça teria homenageá-lo com estes? Ficou o brigadeiro mesmo.
O brigadeiro é um doce brasileiro que foi criado na década de 20; seu nome vem do militar Eduardo Gomes que tanto em 1946 quanto 1950, foi candidato à presidência da república.Derrota duplamente frustrada, pelo menos ganhou notoriedade nas festas brasileiras. Na mesma época a Nestlé estava introduzindo aqui no Brasil seu chocolate em pó. Por aquele tempo, devido a grande dificuldade de se obter leite fresco, ovos, amêndoas e açúcar para os doces, surgiu a ideia de se misturar leite condensado ao chocolate. Muita gente afirma que deram esse nome ao doce de forma satírica em homenagem ao militar, já que ele perdera um dos testículos num tiroteio dentro da cidade, ou seja, a piada é que o brigadeiro é um dos únicos doces brasileiros que não leva ovo na sua receita. O cajuzinho e o beijinho também, mas que graça teria homenageá-lo com estes? Ficou o brigadeiro mesmo.
Uma vez havendo comemoração de aniversário de criança e até nos dos nem tão crianças assim, é de primordial importância que se ofereça brigadeiros aos convidados, que na falta dele, por certo sairão falando que a festa não foi lá essas coisas, mesmo que haja olhos de sogra ou balas de coco em profusão. Se não tem o negrinho, não tem prazer; esta sem brigadeiro é como poesia sem dor, mais sem graça que noiva sem buquê ou padre sem batina.
Depois de ter sido levado ao fogo e de ter rebolado e remexido nos sentidos horário e anti-horário, a massa vai se refervendo de grossura e passa a querer sair da panela com aquela urgência, mostrando o fundo cada vez mais aparente, como se dissesse em desespero, “ tira-me daqui ! ”. Pronto, essa é a hora e a gente tira depressa.
Depois na pedra fria, é hora de pegar a massa já desestressada e serena, lustrosa como a cor dos negrinhos de Portinari e ir lambuzando a mão gostosamente de manteiga ou margarina, e já com a ponta dos dedos bem limpos ir enrolando um por um naquela fastidiosa vontade de quem já fez tudo na vida, de uma maneira lúdica e interminável. Não se pode ir olhando a massa que espera, senão a capacidade de enrolar fica impossível e a gente pode desistir comendo tudo ali mesmo. Então é necessário que quem vá fazer o trabalho de enrolação também se coloque de costas para a pasta atolada e vá-lhe retirando com as pontinhas dos dedos, aos pouquinhos, até ver seu trabalho terminado.
Finalmente, os granulados, esta maravilha que a ciência teima em não gastar tempo, dinheiro e pesquisa para explicar, esses ticos de êxtase que esperaram e que ansiosamente embolam-se loucos por sobre as bolas. Os pedacinhos de chocolate em formas cilíndricas são o grude impar para as bolinhas de tição que esperam atônitas pelo escorregar no prato, revirando-se de prazer e graça como se fosse um ato libidinoso e mais do que sexual. Um ato impublicável!
Uma vez já grudadas, põe-se cada brigadeiro numa forminha que pode ser colorida ou não, laminada ou não, enfeitada ou não, isso nada importará; o primordial foi feito e a missão bem cumprida.
Portanto, na horinha da festa é o momento de se oferecer esse doce a quem quer que o queira, ou seja, todo mundo, desde as gordas tias que irão dizer entre sorrisinhos bobos que será um só, até as crianças ruidosas de embocaduras diversas. Mãos agarrando, dedos conquistando, a turba por sobre o prato e pronto, em metade de um segundo, tudo estará terminado.
Tanto trabalho para nada! Não deu para matar a vontade e nunca é suficiente para nos tirar da imensa saciedade, porque cada brigadeiro é pequeno demais para o nosso apetite de gosto e de esganação. E mesmo se fosse gigante e hercúleo, ainda assim seria insuficiente, porque na vida da gente, o bom sempre falta e o que desprezamos, abunda.
No entanto, atente, para se fazer um bom brigadeiro é necessário possuir a alma contente de um simples mestre de obra, aquele nunca desanima diante de um edifício inteiro a construir, ou ter a paciência do monge budista que não conta prazos e na falta deles, se compraz; ou seja, o tempo não existe e qualquer hora é hora.
Mas, acredite, ainda há pessoas que imaginam que o brigadeiro já nasce pronto e enrolado dentro da lata de leite condensado, que uma vez aberta vai soltando os negrinhos serelepes para o prato.
Desconfio que minha filha, uma loirinha ainda inexperiente em questões culinárias, pensa o mesmo.
Tatiana, sua amiga do tipo " carne e unha " faz aniversário hoje e a chamou ontem à noite para que ela a ajudasse a enrolar os brigadeiros para sua festa. Mas essa bonequinha achou que só abrir latas fosse um trabalho pequeno demais e foi dormir mais cedo.
Hoje de manhã, quando eu a indaguei sobre a feitura dos doces, ela me respondeu assim, languidamente: “Não precisou que eu fosse porque já estavam prontos".
Minha filha deve ter boa mão para enrolar brigadeiros; enrola a mim, enrola a Tati e vai enrolando a vida. Boa essa, Clarissa! Será que também vendem nossos sonhos em latas no supermercado? Quem sabe meus desejos possam ser comprados e já venham para mim embrulhadinhos para presente, com cartão e tudo me desejando assim: Parabéns, você acaba de ganhar uma vida descomplicada”! Coisa aliás que preciso aprender com você; tem muita gente me dizendo que complico tudo.
Mas o que fazer se acredito que a vida necessita de comprometimento? Porque para fazer brigadeiro, minha flor, se não há complicação, se não há entrega, se não nos compenetrarmos na tarefa mágica, daí o negrinho se rebela e pode não sair da panela...
Ainda em tempo, Tatiana, parabéns de novo pelo seu aniversário, você é um doce de moça!
Depois de ter sido levado ao fogo e de ter rebolado e remexido nos sentidos horário e anti-horário, a massa vai se refervendo de grossura e passa a querer sair da panela com aquela urgência, mostrando o fundo cada vez mais aparente, como se dissesse em desespero, “ tira-me daqui ! ”. Pronto, essa é a hora e a gente tira depressa.
Depois na pedra fria, é hora de pegar a massa já desestressada e serena, lustrosa como a cor dos negrinhos de Portinari e ir lambuzando a mão gostosamente de manteiga ou margarina, e já com a ponta dos dedos bem limpos ir enrolando um por um naquela fastidiosa vontade de quem já fez tudo na vida, de uma maneira lúdica e interminável. Não se pode ir olhando a massa que espera, senão a capacidade de enrolar fica impossível e a gente pode desistir comendo tudo ali mesmo. Então é necessário que quem vá fazer o trabalho de enrolação também se coloque de costas para a pasta atolada e vá-lhe retirando com as pontinhas dos dedos, aos pouquinhos, até ver seu trabalho terminado.
Finalmente, os granulados, esta maravilha que a ciência teima em não gastar tempo, dinheiro e pesquisa para explicar, esses ticos de êxtase que esperaram e que ansiosamente embolam-se loucos por sobre as bolas. Os pedacinhos de chocolate em formas cilíndricas são o grude impar para as bolinhas de tição que esperam atônitas pelo escorregar no prato, revirando-se de prazer e graça como se fosse um ato libidinoso e mais do que sexual. Um ato impublicável!
Uma vez já grudadas, põe-se cada brigadeiro numa forminha que pode ser colorida ou não, laminada ou não, enfeitada ou não, isso nada importará; o primordial foi feito e a missão bem cumprida.
Portanto, na horinha da festa é o momento de se oferecer esse doce a quem quer que o queira, ou seja, todo mundo, desde as gordas tias que irão dizer entre sorrisinhos bobos que será um só, até as crianças ruidosas de embocaduras diversas. Mãos agarrando, dedos conquistando, a turba por sobre o prato e pronto, em metade de um segundo, tudo estará terminado.
Tanto trabalho para nada! Não deu para matar a vontade e nunca é suficiente para nos tirar da imensa saciedade, porque cada brigadeiro é pequeno demais para o nosso apetite de gosto e de esganação. E mesmo se fosse gigante e hercúleo, ainda assim seria insuficiente, porque na vida da gente, o bom sempre falta e o que desprezamos, abunda.
No entanto, atente, para se fazer um bom brigadeiro é necessário possuir a alma contente de um simples mestre de obra, aquele nunca desanima diante de um edifício inteiro a construir, ou ter a paciência do monge budista que não conta prazos e na falta deles, se compraz; ou seja, o tempo não existe e qualquer hora é hora.
Mas, acredite, ainda há pessoas que imaginam que o brigadeiro já nasce pronto e enrolado dentro da lata de leite condensado, que uma vez aberta vai soltando os negrinhos serelepes para o prato.
Desconfio que minha filha, uma loirinha ainda inexperiente em questões culinárias, pensa o mesmo.
Tatiana, sua amiga do tipo " carne e unha " faz aniversário hoje e a chamou ontem à noite para que ela a ajudasse a enrolar os brigadeiros para sua festa. Mas essa bonequinha achou que só abrir latas fosse um trabalho pequeno demais e foi dormir mais cedo.
Hoje de manhã, quando eu a indaguei sobre a feitura dos doces, ela me respondeu assim, languidamente: “Não precisou que eu fosse porque já estavam prontos".
Minha filha deve ter boa mão para enrolar brigadeiros; enrola a mim, enrola a Tati e vai enrolando a vida. Boa essa, Clarissa! Será que também vendem nossos sonhos em latas no supermercado? Quem sabe meus desejos possam ser comprados e já venham para mim embrulhadinhos para presente, com cartão e tudo me desejando assim: Parabéns, você acaba de ganhar uma vida descomplicada”! Coisa aliás que preciso aprender com você; tem muita gente me dizendo que complico tudo.
Mas o que fazer se acredito que a vida necessita de comprometimento? Porque para fazer brigadeiro, minha flor, se não há complicação, se não há entrega, se não nos compenetrarmos na tarefa mágica, daí o negrinho se rebela e pode não sair da panela...
Ainda em tempo, Tatiana, parabéns de novo pelo seu aniversário, você é um doce de moça!
3 comments:
Sou apaixonada por brigadeiro...não conheci ninguém na vida que não gostasse de brigadeiro.
Conhecia parte da história,mas contada por voce...rolei de rir.
Precisamos nos conhecer mesmo...o dia que vc vier para campinas,venha na minha casa...moro em Barão Geraldo...será um prazer recebê-la em nossa casa.
Bjs
Sonia Novaes
Gostei da história, muito bem contada e divertida! Faz tempo que não como brigadeiros... É preciso dividir, comer um prato inteiro sozinha é muito egoísmo! rs
Querida Zazá,
depois de ler esse incrível comentário, estou pensando em escrever algo tão bonito, ou então algo que combine com o texto e com você. Porém, não sei se somente as palavras vão conseguir exprimir aquilo que senti no momento em que estava fazendo essa deliciosa leitura.
Só tem uma maneira de agradecer: fazendo brigadeiros para você!
Obrigada por ser essa pessoa tão especial e mais obrigada ainda por eu te conhecer!!!!
Felicidade para todas nós.
Grande Beijo da Tati
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