12 December 2006

ESPERAR

Ah, meu Pé de Pitanga, se eu pudesse lhe dizer uma coisa séria hoje, eu lhe diria que a minha paciência hoje chegou ao seu final . Se tudo tem um começo, tem um um meio e tem um fim, o fim agora é esse. Não espero mais nada e também não espero mais ninguém. Amanhã amanhecerei sem o relógio de pulso enorme que carreguei até agora à exaustão e se em algum momento eu me lembrar que o sino da igreja também marca as horas, arrancarei em fúria de touro bravo, o sino, e se houver um relógio no alto da torre, destruirei os ponteiros daquele relógio, o relógio, a igreja, a praça, o pároco, as beatas, os mendigos que se postam mendigando à porta, apenas para que não haja mais indício de tempo ou de espera que se encerrou agora, neste exato momento de decisão.
Viver, agora sim, esperar mais, não!

E por favor, não me espere; nem passe amanhã!
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Esperar é o diabo
Nascemos esperando a hora de nascer
E a hora de nascer nunca é acertada
Esperamos para crescer
E uma vez crescendo,
Esperamos alcançar as uvas verdes
Uma hora ou outra tê-las conquistado
Nesse contínuo levantar de braços
Nessa pesarosa e única verdade

Amadurecer seria não esperar mais
Esperamos a morte
Nesse jeito duvidoso e lento de viver
E esperamos sentados
À beira do nosso ninho
E lamentando o tempo que já foi desperdiçado



Como eu agora,
Que espero alguém
Que nunca se atrasa
Mas que nem sabe se vem
Porque também espera que sua vida passe

A espera não foi feita pelos deuses
Deuses não anseiam, não resmungam
Não batem o pé à custa da vontade;
Deuses mandam e desmandam
E fazem o tempo da frente
Correr pro tempo de trás
Deuses são os soberanos,
E eu?
Eu devo ser a filha do pecado.

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