12 December 2006

ÓLEO SOBRE TELA

"O elo infinito do quadro negro de tela, retirado da sua moldura, soltou livre o drama dos seus traços"... Picasso, 1937.



Depois de ter lhe pensado um pouco
Resolvo incorporar em mim a alma de Picasso
E pintar-lhe assim num óleo sobre tela
Com as pinceladas vigorosas e nervosas
De todas as deformações que eu trago

Se eu termino meu trabalho
Com as tintas caprichosas da viscosidade
Vejo-lhe agora desbotando sobre a lona
Branco que insiste na sua brancura
Cor que resiste em permanecer no pano

O verde que lhe pintei tornou-se lodo
E a camisa azul passou a ter a cor da estrada
Presença fugidia,
Poeirenta e crua terracota

Não há cor que lhe imprima que perdure
Sua estampa gasosa ainda mora longe
Numa casa pintada atrás do meu painel

Assim, não há como lhe captar a intimidade
Seu ser é escapadio e breve
Corre e recorre;
Sua distância é inconquistada
Embora possa me parecer assim tão perto.


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