Para o que há de vir
Não haverá mais as flores frescas que ofereci
Nem mais a cantiga que eu cantava
E que era alegre
E que eu sabia de cor, de trás
E salteado
Não haverá mais a memória dos poemas
Nem a singeleza dos meus atos
Que tive então,
Num tempo preso à minha juventude
Juventude de leveza
De riso e música
Do devanear cantado
Para o que há de vir
Não haverá mais a pele fresca que ofereci
Nem mais o meu olhar cintilante
Que era a pura luz retrátil
E amendoado
Nem haverá mais o observar curioso dos meus passos
Que tive então
Num tempo preso à minha mocidade
Ao que há de vir
Haverá a arrebentação das lágrimas
A fúria, os olhos desbotados
De choro e mágoa;
Para esse que haverá de vir
Será necessário um amor velado
E um amor por mim
Amor pela minha lástima
Amor pelo que vivi
E ainda assim, amor dobrado.
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