02 January 2007

O TIGRE


Essa é uma das raras vezes que escrevo a partir de uma imagem. Não pude resistir ao tigre siberiano, imponente, majestoso, a representação do poder mudo, que impõe, quando não fala, que age e não justifica, que fere e não se culpa.
O mundo está repleto de pequenas representações de céu e de inferno. O tigre pertence aos dois mundos; no corpo atraente, o fogo do diabo, belo e sôfrego; no olhar, a plenitude dos santos de altar, que nada faz e tudo exalta.
Nunca vi um tigre de perto em minha vida. Mas se visse, primeiramente, levaria aquele susto natural, mas depois, iria conferir, entre tonta e maravilhada, que o tigre está sempre vestido para o carnaval.
Exuberante, luxuoso e sensual, na certa arrancaria as notas mais altas do juri popular.
Palmas para o tigre,
Que sendo mau para os homens
É bom para si mesmo,
Porque se basta entre o maléfico e o benéfico;
Palmas para mim também,
Que sou o tigre em tempos miseráveis;
Vestida de festa quando sei que só desfilo em farrapos.
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Ah, o tigre siberiano
Tem as tatuagens imantadas
Por sobre os pelos dourados eriçados
Também tenho a tatuagem no meu corpo
Que ninguém vê,
Desenho em fino corte por baixo da minha capa
Está nos açoites
Pelos quais a vida me marcou
Riscas rasas de dor e crueldade
Que me embelezaram a alma,
E me fizeram
O que eu sou;
Forte, porque marcada.

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