05 January 2007

VOCÊ ESTÁ CERTÍSSIMO



Uma das maiores frustrações do ser humano deve ser, quando, debatendo sobre algum tópico mais quente, ou discutindo a relação amorosa, ou mesmo vasculhando sentimentos que estão no outro e não só na gente, no meio de uma frase, seu interlocutor diz: “ Você está certíssimo”.
Daí todas as portas se cerraram, as argumentações caíram por terra, o diálogo se estancou e aquele que vinha carregando um cesto de emoções a despejar, que ainda tinha uma meada de conversa a tecer, perde o rebolado, recolhe-se à sua mísera certeza, sem convencimento algum, coça a cabeça, entre perplexo e vacilante, deixando espaço para mais nada, a não ser a frágil concordância de ambas as partes.
O que dizer depois de um “ Você está certíssimo”? Isso significa que seu interlocutor desistiu de você, não quer mais debater, a distância entre os dois foi sentidamente marcada a ferro e as porteiras, por fim, encadeadas.
Concordar com o outro em certas ocasiões é sinal de puro descaso, ou pior ainda, sinal de tédio e fastio.
Discordar então, não com a violência dos animais, mas com a delicadeza de flor, a fim de não ferir o outro, é generosamente ver o outro crescer, é de alguma forma, amar o outro, fazê-lo mais próximo à nós, e é por fim envolver-se na rede de emoções que nos cobre, a ambos.
O concordar é longínquo e ausente, o discordar é o amoroso ato de nos segurar a mão enquanto ali estamos.
Nunca gostei das afirmações baratas e de invólucro duvidoso.
Prefiro que me instiguem, que me façam pensar e que me deixem vasculhar a mente e o coração do meu parceiro de conversa, de senti-lo diferente de mim. O “ você está certo” esconde covardemente a identidade do seu contendedor.
Da próxima vez que me disserem assim: “Você está certíssima”, vou jogar-lhe à cara: “ Ah, é? Então acabo de mudar de idéia!”

1 comment:

Anonymous said...

Você está Certíssima.
AMEI.
Essa é boa para circular na revista VEJA.