Hoje é o dia
Do gato preto
Cujo azar virou a sorte no meu trevo
Hoje é o dia
Das palavras cruzadas
Descrucificarem-se pela língua mastigada
Hoje é o dia
Do goiabada voltar para o pé da árvore de goiaba
E ali dar mamão, caqui e pão
Quando vier a tarde
Do gato preto
Cujo azar virou a sorte no meu trevo
Hoje é o dia
Das palavras cruzadas
Descrucificarem-se pela língua mastigada
Hoje é o dia
Do goiabada voltar para o pé da árvore de goiaba
E ali dar mamão, caqui e pão
Quando vier a tarde
Hoje é o dia de rezar o terço
Sobre as contas regulares dos meus dentes
E declamar duzentas marias sem o “ave”
Hoje é o dia de pintar meus olhos
Novamente
Não mais de preto
Mas de vermelho do cobre do meu peito
Hoje é o dia de falar baixinho
Como se o dicionário, as letras detestassem
Hoje é dia de sol esturricado,
Quando o mundo no meu intimo ficou negro
Hoje é dia de tomar um banho de perfume
Mas há uma reserva inodora aqui dentro
Estou sozinha
É uma solidão cínica, maligna
Hoje é o dia de cerrar os olhos
E contar o tempo em pedaços
Para que o gato preto passe
O terço se desfie
E eu veja a solidão daqui
Distante, pendurada na árvore da goiaba
Que dá mamão em meio aos terços da avelã
Às rezas bravas e às confusões macias
É uma solidão cínica, maligna
Hoje é o dia de cerrar os olhos
E contar o tempo em pedaços
Para que o gato preto passe
O terço se desfie
E eu veja a solidão daqui
Distante, pendurada na árvore da goiaba
Que dá mamão em meio aos terços da avelã
Às rezas bravas e às confusões macias
Hoje é o dia de suspender a confusão
Hoje é o dia de limpar o terreiro da mesmice
De matar afogada a cobra dágua
E esconder em mim o que restasse de aviso
Hojé é o dia da confissão serena, sobre o altar, acesa;
Não sou, não fui e não serei feliz.
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