21 July 2007

EU, VERBO INTRANSITIVO




As verdades que você não me diz
A moça traduz
A moça me falou de um gostar acimentado
Que você dedica
A quem não sou eu
E teceu um saco de verbos transitivos
Sobre costurar uma vida
Onde estou como verbo intransitivo
Triste e desalentado,
Só e sem complemento
Porque não preciso de companhia
Tão logo me basto,
Tal a força que tenho
Em minhas frágeis personagens
Vejo suas palavras
E as palavras da moça, reveladas
Escrevo o que concluo
A moça sabe das coisas do mundo
Você só sabe de mim
Que sou intransitiva e desnecessária
Sabe das ciladas
De me postar no entre da sua malha
Que você teceu
Quando eu nem existia
No arraial do seu abraço
A moça me disse hoje
Na sua vida,
Na construção do que você teceu
Eu sou apenas o fio novo e solto da meada
Se a moça lhe traduz pra minha língua, eu choro
Se você me vem, no puro do intraduzível
Ainda choro
Choro traduzido assim,
Ainda tenho solidão,
Quando estou só,
Quando não estou só,
E é um choro perdido
Que nem mesmo alguém vê
Suas verdades são o preto
A tradução do seu preto é o meu pálido
Pela boca da moça,
O meu intransitivo e áspero desejo.

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