08 August 2007

NADA


Tenho gostado de fechar meus olhos
Ficar na escuridão;
Retirar da escuridão a fina flor do abstrato
O ilusionismo do nada que tudo sabe de nada
Que é o apagar das cores que imprimo
E que os meus olhos abertos, obedientes, filtram
A escuridão pode ser mais do que fidelíssima
Pode ser também a guardiã dos impulsos
E a mãe da minha cautela diante da vida
Pessoas que conheço aconselham-me de tempo em tempo
Dirigem-me como se dirigissem um balão,

Às tontas, ao vento;
Indagam-me do meu sono, das maçãs redondas que comi
Do leite puro que haveria de tomar antes disso

E sempre depois daquilo,
Da festa de aniversário que terei que suportar;
Tenho sorrido simpaticamente de volta às caras mais compreensivas

Tenho tentado ser compreensiva no que me é permitido
Tenho agradecido com reverências formais esses conselhos inúteis,

Tenho me tornado dócil, assustadoramente convidativa
Implacavelmente macia, dirigível,
Um leque, a quem possam abanar
Mas tenho mandado, intimamente

Tanto as pessoas,
Como seus conselhos comerciais
Ao fundo do fundo do inferno
Se houver inferno no fundo,
Embora, muita vez não possa demonstrá-lo,

Tenho que acatar de alguma forma o justo
Que chamam de amor que é o atento zêlo;
As pessoas que conheço são mais sensatas do que eu

Mais sábias do que eu,
Mais articuladas do que eu;
Sabem se livrar de tudo
E eu, que não me livro de nada?
Tudo me dói e tudo me é carga

Neste momento, de uma solidão aliançada
De uma solidão que eu atraí à forças ocultas
Insensatas,
Fecho meus olhos devagar,
Gosto do que vejo
Gosto do nada;
Ah, se o mundo pudesse ser nada
Se eu pudesse ser nada
A infelicidade que sinto, seria nada
Nem o nada, nada.


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