31 August 2007

POEMA DE SER IRÔNICA COMO A PRÓPRIA VIDA


Talvez eu estivesse com sono
Ou nem com sono estivesse
Mas senti sono
Quando me falaram da vida
Em toda a sua importância
Morro de sono quando me falam da vida
E da alegria que preciso ostentar
Não preciso da sua alegria
Preciso do meu sono
Que me dá alegria
Hoje de manhã fui mais simpática do que devia
No meio da tarde já estava esgotada de tanto dar risada
À hora em que me deito é que me sinto viva
Todos os meus defeitos eu abro no zíper da minha compaixão por mim
Amo-me
E ao mesmo tempo,
Páro para pensar que não me amo mais como eu devia
Adulterei-me
E não gostei do que fiz de adulterado
Falei coisas que meu coração sentia
E o coração agora me dói, embora
Não doa mais se me maltrato
Tomo vinho
E não desmaio,
Desperto-me
Acho todas as pessoas ridículas
E acho uma infantilidade ter que me fazer às claras
Para que me entendam
E para dizer o que digo
Quando eu era jovem
Eu era mais verde no fora,
E mais azul por mim, cá dentro
Hoje sou casca de árvore,
Dura, dura
E aprendi o tempo de mascarar
E o tempo de olhar de cima abaixo
Sei quando mordo
E quando tiro os dentes
Gosto de amaciar e gosto de endurecer
Enquanto canto com voz de ninar santo
Hoje,
Nesse silêncio de quarto de convento
Nessa solidão emancipada em que vivo,
Sinto-me tão feliz por ser quem sou
Por não participar internamente dessa dança de roda dos endoidecidos
Só finjo que participo
Na verdade, nem dou a mão
Eu relo a mão
E saio de fininho
Tomo uma taça de vinho
E sorrio

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