06 May 2009

PRELÚDIO DA MONOTONIA


Tenho tanta coisa a fazer agora,
e no entanto, a poesia me põe nos cabrestos,

enrodilha meus calcanhares com argolas pesadas

como se fossem de cimento,

me põe a meditar, no canto da sala,
a repensar meus mal-feitos, minha embirração,
meus defeitos de espantalho, abobalhada

que não compreende nada.

As coisas todas estão esperando por mim,

o pó sobre os móveis suspira aliviado,

as panelas vazias reluzem de rejeição,
o cão agora dorme,

depois de cantar uma sentinela triste
de pedido de atenção.

Eu me busco através da poesia,

e embora nunca me ache,

nunca me explique,

nem me arrisque a produzir clareza,

insisto nessa monotonia pontual de todos os dias

que é passar a limpo as emoções que tenho.

1 comment:

Unknown said...

Eu vivo querendo passar a limpo as minhas emoções.
Nunca conseguirei. Ninguém conseguirá.
Elas não servem para serem passadas alimpo.
Ou trazem felicidade ou nos ferram para sempre.