Negrinho do pastoreio, leva-me para casa,
para a quentura do fogão que rescenda à lenha,
aquecendo minha fartura e meus quadris quadrados.
Iemanjá das águas, leva-me para casa,
para as deliciosas refrescâncias das marolas,
que resultem num azul-luz,
alumiando-me a ponta do espírito
e aquilo que julguei perdido, revelado.
Curumim menino, da lenda do Guaraná,
leva-me para casa,
qual seja à floresta dos Parintins
ou à inquietação da fortuna das paisagens,
alimentando-me de sonhos castos, de bobagens...
Caiporas, índios, caboclos,
Levem-me logo para casa;
Levem-me para o lugar a que pertenço, garantida,
sobremagia, encantamento, mentira de viver,
ilusão do que se é,
ou do delírio assombroso de que eu precisava.
Não pertenço a esse mundo de bravatas
tampouco ao cheiro artifície do anil de Marabá
Leva-me de volta para casa, Boi tatá,
lá por dentro, no escuro da invenção
é que me acho despida e acautelada.
Leva-me e não permita que resgatem-me;
O ouro que encontrarei de volta em minha casa
será o divertimento que terei em deixar esta pousada.
Quando não nos pertencemos, é claro que partimos
e se partimos, é claro que lembramos de mais nada.
Leva-me para casa, Iara de olhos negros,
esquecerei-me de imediato daquilo que vivi,
perdida, infeliz, tangível e deslocada.