17 January 2011

CANÇÃO DO CONHECIMENTO DE SI MESMO

E afinal, o que me tornei
depois de ter bebido
um litro de água e sal
e de ter dormido
à sombra dos areais
de um inferno de deserto?
Em mim havia um pouco de freira,
aquela que se casou com as vestes,
e um pouco de prisioneira,
aquela que se despiu das crenças,
e agora que me amei mais
defino-me um pombo de praça;
a despeito de quem passa,
ainda acha alguma graça
em emporcalhar a praça.

1 comment:

Bessa said...

Estou rindo da sua comparação, Cecília. No fundo, quem sabe, nós somos mesmo é pombos de praça e vivemos emporcalhando a natureza em que vivemos, infelizmente...

E para que vestir armaduras métricas e entrar em formas rigorosas se a sua poesia, minha cara Cecília, já é naturalmente musical ?

Lindo seu texto, de uma sonoridade que muito me agrada. Meus aplausos!