07 August 2007

DEDICADO A QUEM NÃO MORRERÁ


Diga-me que quando você morrer,
E duvido que morrerá,
Que levará consigo um dos meus poemas
Que estará rezando um dos meus poemas como se rezasse
O credo para quem crê em mim
Para livrar sua alma de pecador
Que pecou comigo
E de arrependido de alma num sufrágio

Diga-me que um poema meu lhe libertará dos males
Adquiridos nesta passagem absurda dos seres
E que lhe lavará as vestes
De um branco puríssimo que encantará
Espírito por espírito
Lá onde eles moram
Na cadência dos meus versos
Que não rimam
E nem têm sentido
Diga-me que me levará consigo,
Para onde você for
Para o azul dos ares
Para a poeirinha que voa
E que ninguém vê
Posto que é o tempo
Passado entre nós na terra
E ainda viva, entre nós, no ar
Mas diga-me que minha poesia
É a sua esperança e a sua saudade
A sua dor, como é a minha dor
E a sua rendição de alma
Como a minha própria alma;
De consolo e de renovação
De pureza e de leveza
Diga-me que a minha poesia foi o que lhe manteve
Firme nas enrolações das crises
E frágil nos momentos da minha mais pura ternura
Pois é isso que lhe dou;
Pra sempre
A minha poesia,
O meu sentido de explicação do mundo
E o meu olhar, farto, alentado,
Que vai embutido dentro do meu verso
O olhar de quem sabe que tudo é vão
Mas não é vão o que lhe leva longe
Que seja o meu verso o que lhe levará
Essa poesia ainda ingênua,
Ainda desejosa de ter asas
Para que a poesia lhe seja leve,
Para que eu ainda, lhe seja leve,
E lhe deixe voar.


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