25 December 2008

O MELHOR NATAL


O melhor Natal será aquele que ainda será
O menino Deus nascido me sorrirá da manjedoura
com o olhar rastreador de menino
e o olhar mantenedor de ser divino
e saberei naquele momento que a ternura existe,
que o verbo que eu venho conjugando, existe
que as minhas roupas amassadas se tornarão
tão belas e tão alvas
como a lã do carneiro do presépio acompanhante
que meu destino se prontificou a revirar...

Serei a própria esperança
como se a esperança pudesse ter nascido da amizade
O melhor Natal será aquele
em que me amigarei comigo mesma
nos perdoaremos na benfazeja sinceridade,
- eu e eu -

Será isso a felicidade?


23 December 2008

TEU AMOR É UM DIAMANTE


Teu amor é um diamante
pedra ainda não lapidada,
a bruta confidência da terra
que me foi eterna, posto que sempre houve
quando eu ainda não era

Teu amor são as miríades de luz
e a queda d´água que eu não posso,
luxuoso conjunto de visão e barulho
e a quebra cotidiana dos ossos do meu passado

E teu amor finca como os laços duradouros do alabastro
sustentando a plácida paisagem
da minha vida, da tua vida
dos teus reflexos positivos de bondade.

Teu amor é um diamante que me deste
Puro, orgânico, sem salinidade
Teu amor é rico e é, ao mesmo tempo, despojado
é o diamante, que o meu sentimento atropelou;
e de todos os amores que tive
de todos aqueles que julguei amar,
(se ainda me fosse possível amar),
aquele, a quem posso chamar maximamente de amor,
na estranheza dessa palavra que me acha.



POEMA PARA UM GRANDE AMOR


Por desejar um amor
escrevi cartas e suspirei de noite
Por mais um amor me deitei
e me repeti, exausta.

Por um amor grande, a gente se desespera
Por um amor pequeno, a gente se cria em casca de noz
Foi assim que consegui um qualitativo amor
Grande de serenidade e êxito
Mínimo, de mesquinhez e falta.



18 December 2008

HORA DE FAZER POESIA COM O ABSTRATO


As melhores pessoas
não são aquelas que não nos desejaram o mal,
Mas aquelas, que mesmo nos desejando o malefício,
fizeram menos mal intencionalmente.
(O bem exagerado, tanto machuca quanto mata.)

POEMA DO PERDIDO


Pode-se viver em qualquer lugar;
pendurado no alto da árvore,
boiando no oceano,
comendo terra no far west...
Só não se pode viver
sem a bússola interna
aquela que não se desvia,
nem nos mente.

INVENTAR DE MORRER POR UM MINUTO



Vamos inventar de morrer hoje
para nos esticarmos, imóveis,
à beira da estrada
na antítese da movimentação dos carros
A morte desejada, em vida se destaca
porque a morte planejada, estudada,
a morte efêmera e provisionada
da qual se pode ressuscitar a qualquer momento
é a dádiva da vida acelerada...
Quanto se há de pensar quando se morre!
E quanto se há de crescer quando se aplaca a emoção pesada
do dia-a-dia que a vida traga...
Invento-me de morrer por um minuto
e neste minuto, na solidão da intimidade,
reinvento-me e solidariamente, me abraço.

A TELA DE ZAZÁ


Há coisas que não prescindem de palavras,
nem de tato
A poesia é falha diante da imagem
A poesia é pequena demais se a imagem fala
Fiquemos com a imagem
e deixemos a poesia para mais tarde...

14 December 2008

ONDE É QUE ESTOU ERRANDO?


Se tenho algum amigo,
e se houver na temperança
amizade que me caiba
Me diga, amigo meu
Onde é que estou errando?

O erro também é poder
Como o direito é soberano
De poder, estou repleta
e cheia desse desmando
eu lhe pergunto de novo,
"Onde é que estou errando?"


13 December 2008

INVENÇÃO


Vamos inventar que eu tenha um amor
- um amor bom e gentil,
um amor dos tempos inimagináveis -
E vamos imaginar que esse amor também me ame
- aquele amor bom e gentil
dos tempos ainda mais imagináveis -
Vamos acreditar que esse amor já nasceu e crescerá
no calendário grego, aramaico e romano
e que não terá tempo de morrer
pois imorredouro está
Vamos inventar que eu seja a coroada da primavera
e que meu amor me tirará para dançar
Dançaremos par a par
e de braços dados nos retiraremos
para o que acreditarei ser imperecível
Vamos inventar que eu nunca mais me minta
e que somente aos poucos
foi que me enganei
Vamos nos satisfazer com os jogos de infância
vamos nos acreditar pueris e fastidiosos
reduzidos e religiosos
a acreditar na transcedência do que vivêramos
E vamos nos inventar de modo que sobrevivamos
e que sejamos apenas de quem já nos pertence.


11 December 2008

SUBLIME GATO


As coisas mais simples
as mais simplérrimas coisas

foram aquelas que estavam por debaixo dos fatos...

Por exemplo, o sorriso amarelo do gato

que cruzou a rua e me esbarrou o rabo

O gato derrubou
o que a vida tem de grave.

CECI E CASCALHO


Um cascalho à beira da calçada...
aquela solidão de doer nos ossos
um destino arrebentado ao chão
ínfimo, pequeno, sujo,
Se o cascalho chorasse...
ah, se o cascalho chorasse!
E se eu chorasse,
ah, se eu chorasse...
Mas Ceci e cascalho não têm coração.

09 December 2008

MELANCOLIA


Que melancolia essa da palmeira
plantada
no acolchoado da terra e grama...
Se venta, ela permanece

Torrando o calor, ela fica imóvel

No evento da chuva, engole a sede e se enraiza...

A liberdade é para poucos;

essas poucas nuvens,
na invisível permissão do ir e vir

e o vento imperador,
que muda as coisas de lugar

O resto é pesar fixado na paisagem.