27 February 2009

VALEU


Não é que eu esteja cansada para a vida;
estou é morta para o que chamam de solidariedade
e estou distante do que falam de mim
Morri, mas estou vivendo
e desconheço qualquer tipo de recuperação
Minha vida é pouca, mas me basta
posto que sou insuficiente e pouca
Até o bem te vi aqui ao lado rende mais
porque é útil em sua existência
O que tenho eu,
a não ser essas palavras que nem possuo?
Palavras emprestadas
não me darão a plenitude de quem viveu
e pôde dizer no último ato:
"Valeu".

19 February 2009

POEMA DA CONSCIÊNCIA DO AMOR


Eu sou aquela que ama
e que desama no mesmo espaço de tempo
Amo o bicho, suas similaridades comigo
mas não lhe amo o cheiro de bicho
e talvez sua agressividade vocacional.
Amo o pedinte, mas não a sua subserviência;
amo o fraco, mas não a sua apatia;
amo o triste, mas não a sua tristeza desesperançada;
e no venturoso, amo-lhe a fortuna de vida
mas não a sua vaidade.

Se eu amasse tudo em toda gente
eu seria um ser abstrato, bondoso, mais irreal
do que a realidade que busco e vivo
Amo, mas não amo absolutamente.
Amo a parte que me cabe amar
a parte que anda comigo
Amo-lhe portanto,
mas, à parte as coisas que não almejo
amo-lhe fracionalmente,
num amor bom, senão inteiro,
na melhor e mais benéfica
possibilidade de amor.

14 February 2009

IDADE PARA SER FELIZ

Inspiração tirada de um post de Zazá Lee

A idade para ser feliz é essa que agora gozamos
Basta ter uma respiração suave
e possuir uma visão econômica do tempo que passa,
quando o amanhã já não existe
e o passado é uma colcha velha que usamos
e não queremos mais.

Felicidade é quando olho para fora da janela;
se tem sol, amo o sol e suas quenturas indeléveis, tórridas,
se há chuva, apaixono-me pela chuva e sua umidade
comprometida na terra.

Eu sou feliz apenas quando me ajudo
a compreender a inefável,
indescritível sensação de estar vivendo,
não obstante os meus ais.

Meus movimentos, meu piscar de olhos,
um pensamento afoito
que vem e que vai...

Nisso reside a vida plena,
essa mistura de concupisciência e solidão
circo imaginado dos horrores do ódio
e das estórias das belezas bailarinas
que vale a pena ser vivida em nós.



12 February 2009

UM POEMA DE AMOR


Já já ele surgirá
despenteado e aéreo em suas partes altas;
risonho e sábio no que lhe diz por dentro
Não nos falaremos muito;
sorriremos...
A palavra que não for pensada
há muito ecoa por dentro dos meus medos
Somos assim;
um é amigo e fonte de resgate,
o outro é busca e sede de regresso.

06 February 2009

POEMA DE DESEJAR SURPRESA


Hoje eu acordei desejando uma surpresa;
um silêncio de peso e passos,
um passarinho assexuado que pousasse no quintal,
um azul da Renascência em céu de pintura,
um leite ardorosamente quente,
com café e nata,
um contentamento de alice nas maravilhas de agora,
um amor sério e circunspecto que me falta,
um riso de sal, que penetra e cura.

O dia já se estende há muito;
muitos já pensam no jantar...
A surpresa desejada ainda não veio;
mas a noite até este momento, encobre a fé,
que pode ser revelada, se eu ainda quiser.

02 February 2009

SANGUE E LÁGRIMA


Jamais serei a mulher dos sonhos de alguém
Meus pudores não permitem que eu seja admirada
O que é admirável, empobrece
e o que é beleza, perece.
Que vivam meus anseios e conflitos etéreos.
Enquanto eu for gente,
terei cheiro e sabor de gente,
que vem a ser,
uma mistura quente
de sangue e lágrima