Que saudades de ti, Argentina
da fala nervosa da tua gente
e das figuras espigadas
sentadas nos cafés nebulosos
de cigarrilha e açúcar.
Hoje choveu aqui onde estou,
bem no meio da tarde;
A tua Buenos Aires entrou pela sala adentro
rigorosa e festiva num mesmo tempo
Dançaste um tanguito de menos
às quatro horas em ponto
e me fizeste enredar no teu frio suave
como foi suave sentir teu frio sobre um tigre aberto,
livre, de vento rasteiro congelando meu rosto
por cima do meu deslumbramento
de te sentir nua
e de te sentir inteira.
Ah, que saudades de ti, Argentina
Pudesse eu sentir novamente as tuas peles frescas
e te pudesse envergar, Argentina,
Seria eu um bicho que voa longe
Te pousaria sobre uma avenida escancarada
larga como um ventre de mãe
e trocaria minha nacionalidade duvidosa
pela respiração ritmada do teu sangue quente
pela pátria de um único passo teu
melodioso e diciplinado
pobre plebeu europeu,
mas digno da minha hoje condição de mártir...
Argentina que me roubou o ar,
dos bons ares de quem me convida
Quando eu nem sabia o que era ar
e que depois,
a falta desse ar me produzira.