31 July 2010
POEMA PARA TUA VIAGEM
Venho dos teus longos braços,
e a minha tristeza é muita.
Quando te senti, viajei
mas os teus braços,
ah, esses teus braços,
foram a invenção desta estação de trem,
que parte e parte
não obstante a tua passagem.
O FATO
Escrevo um livro, sem qualquer prazer, composto de dor tanta, apenas para servir o meu próximo.
Meu livro é o agasalho destinado ao Exército da Salvação; já não me protege.
Mas assombroso estranhamento, ao jogá-lo aos seus destinos estrangeiros, quando não me pertence mais, dele não me afasta, e mesmo longe, fechado capa a capa nas prateleiras que ignoro, todos os dias, maternalmente, ainda me salva.
16 July 2010
POEMA DOS TRÊS SUSPIROS
Suspiramos três vezes
quando nos abandonamos;
o primeiro suspiro foi do alívio fresco,
o novo alvissareiro tombo
falsicado de promessas velhas
falsicado de promessas velhas
que não desejávamos mais;
o segundo veio carregado
das surpresas mornas,
das surpresas mornas,
aquelas que acariciamos ,
quando tantas vezes ficávamos distantes,
quando tantas vezes ficávamos distantes,
e que gozamos delas,
por cima das novidades.
por cima das novidades.
O terceiro suspiro foi o que mais contou,
porque foi verdadeiro;
deu-nos um medo de morte
pelo o que já fomos,
pelo o que agora somos,
e pelo o que há de vir para nós,
não obstante, nossas súbitas coragens.
12 July 2010
POEMA DA TUA PRESENÇA
Como se tudo fosse verdadeiro
como se tudo fosse derradeiro,
como se tudo fosse arrebatador,
teu sorriso suplanta o que há de belo
e tua presença me dá ainda mais
do que pensei de amor...
POEMA DO NOVO
Acontecem coisas lúdicas,
sim, acontecem,
e há sobrenaturalidades,
neste mundo.
sim, acontecem,
e há sobrenaturalidades,
neste mundo.
Quando acordei,
pela manhã,
pela manhã,
havia um rastro de lagarta
que passara pela madrugada
por sobre a cama, como cabeceira.
Durante meu sono duro,
não pude perceber a singeleza
passando lentamente
enquanto eu imergia nas imagens.
Mas a passagem dela,
lustrosa e sinuosa,
me deu hoje uma nova identidade.
lustrosa e sinuosa,
me deu hoje uma nova identidade.
09 July 2010
POEMA DA VOZ AMADA
Vindo na distância, a voz amada
soa mais grave,
como deve soar numa distância,
a gravidade.
a gravidade.
Para compreender de fato o amor
é necessário avaliar no afastamento
a textura e a natureza da voz da coisa amada;
se é grave, é porque veio de saudade, carregada
e se acontecer também de ser doce e entrecortada
é porque o amor ainda vive,
e em nada de perdeu da ilusão,
e em nada de perdeu da ilusão,
a despeito do seu vasto espaço.
BIOGRAFIA DA CARNE
Tenho umas sensibilidades de mulher,
que agora, sem governo,
são o que me decretam mais.
Dentro da minha pouca juventude,
não mais desejo a carne pela carne,
mas a biografia da carne,
aquela que me finca na história
e me conta.
e me conta.
07 July 2010
POEMA DO AMOR BOM
A gota desprendida da torneira,
suave de tão límpida, neonata,
é a luzidia matéria do teu olho
e a benfazeja ação da tua mão,
benta, benzedora e beata.
04 July 2010
POEMA DA MELANCOLIA
Vim de tão longe,
e de onde vim
não havia o trabalhoso fardo,
esse que agora eu conheço.
Vim de tão longe,
e quando vim,
não percebi
aquilo que já me contavam:
que esse é mundo é grande,
agora o sei
e que as pessoas matam,
também já entendi,
posto que já me mataram por cem vezes
e por cem vezes, já morri.
Atento-me para a prolixidade deste mundo,
e do lugar que vim,
nem mesmo sobrou lembrança
- talvez um pouco de saudade -
mas saudade sem lembrança,
é só melancolia.
AMO-TE, AMO-TE, AMO-TE
Amo-te com um amor material,
daquele que faz
das poeiras dos passos, um monte.
E amo-te com um amor de irmã,
lógico e carnal, que segue em sangue.
E amo-te ainda mais,
como um amor de pássaro celeste,
aquele que já nasceu isento
e sabendo muito do liberto.
E acima de tudo,
amo-te, amo-te e amo-te,
com o amor da cura dentro do respeito.
E finalmente,
do juízo carnal do amor perfeito,
amo-te agora mais
do que pensei primeiro.
02 July 2010
POEMA DO AMOR DE SAL
Você deixou de me amar,
eu desconfio
naquele dia em que
os números do supermercado
insandecidos, deram rasante
por cima das prateleiras de sal.
O que era o bom tempero,
virou um feio inócuo.
Por que se deixa de amar alguma coisa,
e em que momento
o laço de prata se desfinca?
As duas pontas soltas de metal
sofrem de distância,
e o sal, esse sorri.
eu desconfio
naquele dia em que
os números do supermercado
insandecidos, deram rasante
por cima das prateleiras de sal.
O que era o bom tempero,
virou um feio inócuo.
Por que se deixa de amar alguma coisa,
e em que momento
o laço de prata se desfinca?
As duas pontas soltas de metal
sofrem de distância,
e o sal, esse sorri.
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